SOP: O que é?
Muitas mulheres chegam no meu consultório ou me enviam mensagens querendo saber mais sobre a Síndrome dos Ovários Policísticos ou SOP. Seja porque ouviram o que uma amiga falou, seja porque viram algum vídeo na internet, ou mesmo porque outro ginecologista sugeriu esse diagnóstico. Aposto que você já ouviu falar, suspeita que possa ter ou tem alguma amiga que já foi diagnosticada.
Para conhecermos mais sobre a doença, precisamos entender um pouco como funciona o corpo da mulher. Os ovários são duas glândulas responsáveis pela produção dos hormônios sexuais (estrogênio e progesterona) e armazenamento das células reprodutivas, os folículos, bolsas que contêm os óvulos.
A cada ciclo menstrual diversos folículos são recrutados, no entanto apenas um amadurece, desenvolve, rompe e ovula, liberando o óvulo que pode ser fecundado pelo espermatozoide, originando o embrião.
Esse processo é estimulado por diferentes hormônios além dos sexuais, e se repete durante toda a fase fértil feminina até a menopausa, quando ocorre a última menstruação e os ovários entram em falência.
Na SOP ou síndrome dos ovários policísticos, há o crescimento de múltiplos folículos na parte externa dos ovários. Isso causa um desequilíbrio nos hormônios reprodutivos resultando em infertilidade.
Elaborei esse texto para você conhecer melhor a SOP, o que pode te ajudar a evitar complicações mais graves e até como conseguir uma gestação. Nele, explico dos fatores de risco e relação com a infertilidade ao diagnóstico e tratamento.
O que é a Síndrome dos Ovários Policísticos (SOP)?
A SOP é uma condição que pode afetar a sua fertilidade durante a fase reprodutiva. Observamos em pacientes com a doença uma alteração dos níveis dos hormônios sexuais, que impedem o desenvolvimento e amadurecimento dos folículos e assim, podemos observar muitos folículos, que se assemelham a cistos pequenos, quando é realizado o ultrassom transvaginal. Daí o nome da síndrome.
Esse excesso de folículos e alterações hormonais resultam em problemas de ovulação, como a dificuldade em liberar o óvulo, levando à irregularidade menstrual ou anovulação. A SOP é, inclusive, considerada a principal causa de anovulação.
Além disso, como consequência do desequilíbrio nos níveis dos hormônios reprodutivos pode haver um aumento da testosterona, principal hormônio masculino. Normalmente, é produzido em pequenas quantidades pelos ovários, mas na SOP a produção é muito maior, provocando diferentes alterações na imagem corporal da mulher.
Ainda que as causas da SOP permaneçam desconhecidas ela é associada por estudos a fatores de risco como:
- Genética: a incidência de SOP é maior em mulheres com casos relatados em familiares de primeiro grau, como mães ou irmãs;
- Obesidade e resistência à insulina: o excesso de peso é considerado a principal causa de resistência à insulina (RI), quando as células não respondem ao hormônio, responsável por controlar a quantidade de glicose presente no sangue. A resistência à insulina interfere no desenvolvimento e maturação dos folículos, causando os problemas na ovulação e agravando o quadro de hiperandrogenismo (aumento dos hormônios masculinos).
A SOP apresenta percentuais de prevalência de até 20% em alguns países, incluindo o Brasil.
Quais são os sintomas de SOP?
Os múltiplos cistos provocam o aumento do volume ovariano, enquanto os problemas de ovulação e o aumento da testosterona resultam em diferentes sintomas. Eles podem manifestar em maior ou menor intensidade e interferir na autoestima das mulheres portadoras resultando no desenvolvimento de transtornos emocionais. Os principais sintomas de SOP são:
- Ciclos menstruais em intervalos mais longos (acima de 45 dias);
- Amenorreia (ausência de fluxo menstrual por mais de 60 dias);
- Aumento do volume ovariano;
- Crescimento de pelos no rosto e outros locais do corpo (hirsutismo);
- Surgimento de acne e seborreia;
- Queda temporária de cabelo (alopecia);
- Aumento de peso;
- Transtornos emocionais, como ansiedade e depressão.
Os sintomas, no entanto, podem ser evitados quando a SOP é precocemente diagnosticada e tratada.
Como a SOP é diagnosticada?
O diagnóstico de SOP é feito de acordo com alguns critérios e após a exclusão de outras doenças que podem causar sintomas semelhantes. Para isso, são realizados exames laboratoriais e de imagem.
Geralmente realizamos testes para avaliação da reserva ovariana, que indica a quantidade dos folículos, testes hormonais, para avaliar os níveis dos hormônios reprodutivos e testes de imagem, como a ultrassonografia transvaginal, que confirmam a presença dos múltiplos folículos, a quantidade, tamanho e a medida do volume ovariano.
Após os resultados, consideramos, ainda, pelo menos dois dos seguintes critérios para confirmação do diagnóstico.
- Distúrbios de ovulação, caracterizados pela oligovulação (ovulação infrequente ou irregular) ou anovulação (ausência completa de ovulação);
- Sinais clínicos e/ou bioquímicos (laboratoriais) de hiperandrogenismo;
- Morfologia policística dos ovários – presença de 12 ou mais folículos medindo de 2 mm a 9 mm de diâmetro e/ou volume ovariano acima de 10 cm³.
Opções para o tratamento de SOP
Indicamos o tratamento a partir dos resultados apontados pelos exames diagnósticos e da principal queixa da paciente. Levamos em consideração também seu desejo de engravidar no momento que os testes são realizados.
Para redução dos hormônios masculinos: geralmente são prescritos anticoncepcionais orais e hormônios esteroides de ação antiandrogênica, que agem bloqueando ou inibindo os sintomas masculinos;
Para resistência à insulina: quando há resistência à insulina, é prescrito um agente sensibilizador, ou seja, uma medicação que aumenta a sensibilidade do corpo à ação da insulina;
Para os distúrbios de ovulação: o tratamento deve ser feito pela estimulação ovariana e é particularmente indicado para as mulheres que estão tentando engravidar. É um procedimento que utiliza medicamentos para estimular o desenvolvimento e amadurecimento de mais folículos e integra as três principais técnicas de reprodução assistida, indicadas de acordo com as características de cada paciente: relação sexual programada (RSP), inseminação artificial (IA) e FIV (fertilização in vitro).
Na RSP e IA a fecundação acontece como em processo natural, nas tubas uterinas. Por isso, são mais adequadas para mulheres com SOP até 35 anos, que ainda possuam uma boa reserva ovariana e tenham a tubas uterinas saudáveis.
Na fertilização in vitro, por outro lado, a fecundação ocorre em laboratório. É mais adequada para mulheres com SOP acima de 36 anos, quando já há diminuição da reserva ovariana, para mulheres com problema nas tubas ou fator masculino grave, independentemente da idade do casal.
Conheça 4 mitos relacionados à SOP
- Ciclo menstrual irregular é indicativo de SOP: irregularidades menstruais também podem ser causadas por outras condições, incluindo distúrbios da hipófise, responsável pela secreção dos hormônios FSH e LH, que regulam as funções dos ovários, ou na tireoide: os hormônios tireoidianos também interferem no processo reprodutivo.
- A SOP afeta apenas mulheres acima do peso: embora a obesidade seja um fator de risco para a SOP, ela pode afetar qualquer mulher na fase reprodutiva, independentemente do peso corporal.
- A perda de peso promove a cura da SOP: a perda de peso pode ajudar a equilibrar os níveis hormonais e, consequentemente, reduzir os sintomas e aumentar as chances de gravidez, no entanto, não promove a cura da doença.
- Hirsutismo é sinal de SOP: nem sempre o crescimento de pelos em locais pouco comuns é sinal de SOP. Outras condições também podem provocar o problema em mulheres com o ciclo menstrual regular e a fertilidade preservada. Entre elas os fatores hereditários e a menopausa.
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