Perda Gestacional de Repetição
Uma das principais causas de infertilidade feminina, o perda gestacional de repetição (AR) pode ser provocada por diversas condições, como alterações uterinas, hormonais, problemas imunológicos e genéticos.
Embora a perda gestacional espontânea seja comum em mulheres na idade reprodutiva, é definido como de repetição quando há duas ou mais perdas consecutivas antes da 20ª semana de gestação. Nesse caso, compromete a fertilidade, reduzindo as chances de gravidez a cada perda.
O principal sintoma de abortamento é o sangramento vaginal vermelho vivo ou com tonalidade amarronzada. Ele pode iniciar de forma intensa ou mais leve e aumentar em intensidade.
A partir da definição da causa, é possível estabelecer o tratamento mais indicado para cada caso. Diferentes abordagens aumentam a possibilidade de a gravidez ser bem-sucedida.
Este texto explica tudo sobre a perda gestacional de repetição. Destaca as causas, sintomas que indicam a necessidade de procurar auxílio médico, diagnóstico e tratamentos indicados.
Conheça as principais causas da perda gestacional de repetição
A perda de gravidez recorrente pode ser emocionalmente desgastante, principalmente pelo fato de a perda gestacional de repetição, em muitos casos, não ter uma etiologia definida.
No entanto, diferentes estudos apontam possíveis causas para o problema. A identificação delas contribui para a indicação da abordagem terapêutica mais adequada. As principais incluem:
Anormalidades uterinas: alterações na anatomia do útero estão entre as principais causas da perda gestacional de repetição. Elas podem ser congênitas ou provocadas por miomas, pólipos uterinos e aderências que resultam de infecções e de cirurgias.
Tendem a interferir na vascularização do endométrio, levando a uma placentação anormal e falhas na implantação do embrião e, consequentemente, abortamento.
Deficiências hormonais: entre as deficiências hormonais associadas à gravidez está uma condição conhecida como deficiência na fase lútea, caracterizada pela diminuição da produção de progesterona, fundamental para a preparação final do endométrio e formação da placenta. Ou seja, a deficiência hormonal causaria dificuldades para implantação e desenvolvimento da gravidez. Porém, alguns estudos questionam se essa realmente é uma causa de abortamento.
Desequilíbrios na produção de insulina, de prolactina e nos hormônios da tireoide também resultam em perda fetal.
Genética: anormalidades na composição cromossômica do embrião são uma das principais causas de perda de gravidez, principalmente as que se caracterizam por uma anormalidade da quantidade de cromossomos.
A condição é conhecida como aneuploidia e surge como consequência de alterações nos óvulos ou nos espermatozoides, muito comuns, por exemplo, ao avanço da idade.
Ao mesmo tempo que a aneuploidia pode provocar perda gestacional de repetição, os erros cromossômicos de quantidade levam ao desenvolvimento de condições como a síndrome de Down, frequentemente relatada em filhos de pais mais velhos. Nela, o cromossomo 21 tem três cópias.
Desequilíbrios no sistema de coagulação: problemas de coagulação estão ainda entre os que causam perda gestacional de repetição. Mulheres portadoras de trombofilia, por exemplo, principalmente a hereditária, têm maior predisposição para o desenvolvimento de disfunções na formação ou função placentária.
Infecções: infecções que afetam o revestimento uterino (endométrio), geralmente provocadas por bactérias de crescimento lento, como Mycoplasma ou Ureaplasma, assim como a infecção por clamídia, são causas associadas à perda recorrente de gravidez.
Outros fatores são apontados como risco, incluindo doenças autoimunes, entre elas o Lúpus, alterações no peso ou mesmo hábitos como tabagismo, alcoolismo e uso de drogas.
Diagnóstico de perdas gestacionais de repetição
Para ser considerada como perda gestacional, entretanto, a gravidez deve ter sido reconhecida clinicamente. Após a confirmação são realizados, então, diferentes tipos de exames para identificar a possível causa.
Os testes hormonais avaliam os níveis dos hormônios importantes para o processo gestacional, entre eles estrogênio e progesterona, os tireoidianos e a insulina.
Testes de urina ou swabs vaginais são realizados para identificar bactérias que possam ter causado infecções.
O exame de cariótipo, para o rastreio genético dos pais, é fundamental nos casos de abortamento de repetição para excluir alterações cromossômicas.
A investigação de trombofilia é ainda indicada quando há histórico pessoal ou familiar de trombose.
Os exames de imagem, por outro lado, possibilitam a identificação de condições que podem causar alterações uterinas, como miomas, tecido endometrial ectópico, pólipos endometriais ou aderências. Os mais comuns são ultrassonografia transvaginal, histerossonografia, histerossalpingografia, ressonância magnética (RM) e histeroscopia.
Geralmente, a ultrassonografia transvaginal é o primeiro exame realizado. Os resultados orientam para indicação dos complementares.
Da mesma forma, o diagnóstico obtido a partir da realização dos exames também vai orientar a opção terapêutica mais adequada para cada caso.
Tratamento para perda gestacional de repetição
O tratamento é indicado de acordo com a causa da perda gestacional de repetição. Pode ser farmacológico, cirúrgico ou realizado a partir de técnicas de reprodução assistida, como a fertilização in vitro (FIV).
O farmacológico envolve a administração de diferentes tipos de medicamentos. Antibióticos são prescritos nos casos de infecções sexualmente transmissíveis (ISTs) e é indicado o tratamento do parceiro, pois pode haver reinfecção.
A terapia hormonal é recomendada para equilibrar os níveis de hormônios que podem interferir no processo gestacional.
Mulheres diagnosticadas com trombofilia, para prevenir a formação de coágulos, normalmente são tratadas desde o período anterior à gestação com ácido acetilsalicílico ou com anticoagulantes durante a gravidez quando o risco é maior.
Abordagens cirúrgicas são necessárias se houver alterações uterinas congênitas causadas por tecido cicatricial ou endometrial ectópico e por miomas ou pólipos uterinos que não reduziram com o tratamento hormonal.
Se a gravidez não ocorrer após o tratamento, a FIV passa a ser a principal indicação.
Na FIV, quando a perda gestacional de repetição é causada por anormalidade cromossômicas, é possível avaliar as células embrionárias pelo teste genético pré-implantacional, técnica complementar ao procedimento, permitindo a seleção dos embriões mais saudáveis que serão transferidos para o útero.
Outras técnicas complementares à FIV, como o teste ERA e o hatching assistido, também contribuem para tentar minimizar a ocorrência de perda gestacional de repetição.
O teste ERA determina com precisão o período de melhor receptividade endometrial para a transferência embrionária, enquanto o hatching assistido prevê a criação de fendas artificiais na zona pelúcida para facilitar a ruptura dos embriões antes da implantação.
A FIV é considerada a principal técnica de reprodução assistida e a que apresenta os percentuais mais expressivos de gravidez bem-sucedida por ciclo de realização.