Estimulação ovariana
A estimulação ovariana é um procedimento que utiliza medicamentos hormonais semelhantes ao produzidos pelo organismo para estimular o desenvolvimento e amadurecimento de mais folículos, bolsas que armazenam os óvulos durante seu processo de amadurecimento.
É importante para mulheres com disfunção na ovulação, uma das principais causas de infertilidade feminina.
Em um ciclo natural, vários folículos começam seu crescimento, porém apenas um se desenvolve e se rompe, liberando o óvulo.
Em mulheres com distúrbios de ovulação, há baixa estimulação do crescimento dos gametas femininos ou falhas na liberação do óvulo, causando a ausência de ovulação, condição conhecida como anovulação.
A estimulação ovariana compõe os tratamentos de reprodução assistida e é realizada nas principais técnicas: relação sexual programada (RSP) e inseminação intrauterina (IIU), ambas consideradas de baixa complexidade, e a fertilização in vitro (FIV), considerada de alta complexidade. Elas são indicadas de acordo com cada caso.
Este texto explica a estimulação ovariana, destacando os casos em que o procedimento é indicado e os possíveis riscos associados a ele.
Entenda como a estimulação ovariana funciona
Problemas de ovulação geralmente resultam de irregularidades menstruais, caracterizadas por ciclos mais longos ou curtos, com maior ou menor quantidade de fluxo menstrual ou ausência de menstruação.
As irregularidades menstruais são causadas por alterações hormonais, que resultam de diferentes condições, sendo a mais comum a síndrome dos ovários policísticos (SOP).
No entanto, também podem ser provocadas por distúrbios da tireoide, endometriose, miomas uterinos e pólipos endometriais, por exemplo.
A estimulação ovariana é o principal tratamento para mulheres com disfunção na ovulação e é uma das etapas dos procedimentos de reprodução assistida. Cada técnica, entretanto, utiliza um protocolo diferente.
Em um ciclo natural, os hormônios FSH (hormônio folículo-estimulante) e LH (hormônio luteinizante) são secretados pela hipófise, uma parte importante do cérebro, para estimular o crescimento dos folículos, desenvolvimento e maturação do que irá se romper.
Na estimulação ovariana, os medicamentos hormonais utilizados são administrados nos primeiros dias do ciclo.
O crescimento dos folículos é acompanhado periodicamente por ultrassonografias transvaginais, até que eles atinjam o tamanho ideal, quando é feita a indução da ovulação, também por medicamentos hormonais.
Nas técnicas de baixa complexidade, o ciclo é pouco estimulado, pois o propósito é obter até três óvulos, uma vez que a fecundação ocorre como em processo natural, nas tubas uterinas, e uma estimulação mais intensa aumentaria a chance de gestação gemelar.
Por isso, elas são indicadas para mulheres com disfunção de ovulação até 35 anos que tenham as tubas uterinas saudáveis.
Na relação sexual programada, os gametas masculinos também devem estar dentro dos padrões de normalidade, pois o tratamento tem como propósito estimular que mais folículos se desenvolvam para serem naturalmente fecundados durante o período mais fértil do ciclo menstrual.
Já na inseminação intrauterina, os espermatozoides podem ter pequenas alterações na morfologia e motilidade. A técnica possibilita a seleção dos melhores na etapa de preparo seminal. Eles são posteriormente depositados no útero durante o período fértil, facilitando, dessa forma, a jornada natural.
Nos tratamentos de FIV, por outro lado, as dosagens utilizadas são mais altas, pois a intenção é conseguir o maior número de óvulos possível, que serão fecundados em laboratório.
A FIV é indicada para mulheres com disfunção de ovulação acima dos 35 anos ou que tenham problemas de obstruções nas tubas uterinas e quando os problemas de infertilidade masculina são de maior gravidade.
Na FIV, após a indução da ovulação, os folículos são coletados por punção folicular. Simultaneamente é realizada a coleta do sêmen por masturbação em laboratório.
Óvulos e espermatozoides são, então, fecundados em laboratório. Atualmente, o método mais utilizado é a FIV com injeção intracitoplasmática de espermatozoides (ICSI), em que cada espermatozoide é injetado no óvulo por meio de um equipamento importante denominado micromanipulador de gametas.
Na FIV, outras técnicas possibilitam ainda a solução de problemas importantes para mulheres com disfunção na ovulação. As alterações hormonais também interferem na receptividade endometrial, um dos parâmetros de saúde reprodutiva para que a implantação do embrião seja bem-sucedida e, consequentemente, a gravidez.
O teste ERA analisa os genes envolvidos no ciclo endometrial, possibilitando, dessa forma, determinar com precisão o período de maior receptividade para a transferência dos embriões.
Por outro lado, embora os índices de gravidez sejam significativos nos procedimentos de baixa complexidade, na FIV os percentuais são bem mais expressivos. Por isso, é considerada a principal técnica de reprodução assistida.
Possíveis riscos da estimulação ovariana
Entre os riscos associados ao uso de medicamentos hormonais está a possibilidade de ocorrer gestação múltipla, que pode causar complicações para a mãe e para o feto, como pré-eclâmpsia, parto prematuro e recém-nascidos com baixo peso.
Quando os ovários produzem uma quantidade maior de hormônios, também pode ocorrer a síndrome de hiperestimulação ovariana (SHO). Apesar de ser rara e atualmente facilmente evitada, pode resultar em alterações metabólicas e em problemas mais sérios, como a trombose venosa profunda (TVP), principalmente nas pernas, ou mesmo em perda da gravidez.