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Preservação social da fertilidade

Preservação social da fertilidade

Desde 2013, o Conselho Federal de Medicina (CFM), órgão que regulamenta a reprodução assistida, ampliou o acesso às técnicas para pessoas solteiras que desejam engravidar, mesmo que não tenham problemas de fertilidade.

Entre os benefícios proporcionados pelos tratamentos está a preservação da fertilidade em antecipação ao declínio natural, quando há a intenção de adiar os planos de gravidez. O procedimento é conhecido como preservação social da fertilidade e é realizado no contexto da FIV (fertilização in vitro).

Este texto explica como a fertilidade de homens e mulheres pode ser preservada com o auxílio da FIV, destacando os possíveis riscos associados ao procedimento.

Como a fertilidade é preservada?

Além da ampliação do acesso às técnicas de reprodução assistida, a preservação social da fertilidade se tornou possível pelo avanço dos métodos de criopreservação. Com o surgimento da vitrificação – técnica mais utilizada atualmente devido às altas taxas de sobrevida do material congelado –, o congelamento por um período maior tornou-se possível.

A criopreservação de gametas (óvulos e espermatozoides) e embriões é uma das técnicas complementares à FIV. Antes de iniciar o tratamento, no entanto, diferentes exames são solicitados: para as mulheres, o teste de avaliação da reserva ovariana, que determina a quantidade e qualidade dos gametas femininos, e, para os homens, o espermograma, exame que avalia a fertilidade masculina, identificando os valores de parâmetros como concentração, morfologia e motilidade dos espermatozoides e qualidade seminal.

Testes hormonais são indicados para analisar os níveis dos hormônios envolvidos no processo reprodutivo, assim como o rastreio para infecções, inclusive as sexualmente transmissíveis.

A preservação da fertilidade feminina inicia com a estimulação ovariana. O procedimento utiliza medicamentos hormonais para estimular o desenvolvimento de mais folículos. O objetivo é obter cerca de 15 óvulos maduros para serem congelados. Quanto mais óvulos, maior a chance de sucesso no futuro, mas cada paciente possui uma reserva ovariana e cada caso deve ser individualizado.

O desenvolvimento dos folículos é acompanhado por exames de ultrassonografia realizados a cada dois dias, em média. Quando eles atingem o tamanho ideal, a maturação final e a ovulação são induzidas. A ovulação ocorre em cerca de 35 horas e os folículos maduros são coletados por punção folicular. Os óvulos são retirados dos folículos em laboratório e congelados para uso futuro. O procedimento de doação de gametas segue os mesmos passos.

Já para preservar a fertilidade masculina, o primeiro procedimento é a coleta do sêmen, feita na própria clínica de reprodução assistida, por masturbação. Os melhores espermatozoides são separados do líquido seminal e dos espermatozoides de baixa qualidade por preparo seminal, também chamado capacitação seminal. Esses espermatozoides melhores são congelados para serem utilizados em ciclos de FIV quando o homem quiser ter filhos.

Quando o homem apresenta azoospermia, a ausência de espermatozoides no sêmen, pode-se indicar técnicas cirúrgicas ou de punção para a retirada deles dos epidídimos, ductos ligados aos testículos pelos quais os espermatozoides passam durante seu amadurecimento, ou dos próprios testículos, se a azoospermia for resultado de problemas na espermatogênese.

Nos casos em que a opção de adiar a gravidez é feita por casais, há ainda a opção de congelar os embriões formados pela fecundação dos gametas. A fecundação ocorre em laboratório e os embriões são cultivados por alguns dias antes de serem congelados, dependendo das características do casal.

Atualmente, o método de congelamento chamado vitrificação tem atingido bons índices de sucesso de nascidos vivos após descongelamento, por isso se tornou a principal indicação, substituindo o método de congelamento lento.

A preservação social da fertilidade provoca algum risco?

O principal risco associado à preservação social da fertilidade é aumento da produção de hormônios pelos ovários, como consequência do uso dos medicamentos utilizados na estimulação ovariana, que pode levar ao desenvolvimento de uma condição conhecida como síndrome da hiperestimulação ovariana (SHO). No entanto, a SHO é rara e de fácil controle atualmente.

A punção folicular para coleta de óvulos também pode, muito raramente, resultar em sangramento abdominal e processos infecciosos, geralmente evitados pela administração de antibióticos. Se isso ocorrer, sintomas como sangramento abundante, cólicas severas, febra alta e calafrios indicam a necessidade de procurar auxílio médico.

Ainda que a os gametas possam permanecer congelados por vários anos, na gravidez em idades mais avançadas, há maiores chances de intercorrências obstétricas, como hipertensão e diabetes gestacional, mesmo que a taxa de gravidez na FIV dependa da idade do congelamento e não da idade na transferência. Por isso, é importante considerar o tempo adequado de espera, no momento que for realizada a criopreservação.

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